Conto Primeiro

Sentada em uma mesa de bar
Sigo atentamente seus passos.
Caminha de mesa em mesa
Quantas. assim como eu, também o olham?
Mas ele não liga
Segue caminhando e cuidando de sua vida.
Vez ou outra dedica atenção a uma cliente antiga.
Pode-se dizer até que cuida dela.
Justo ela, a única, aquela que nem fita-o direito
Dizem que é escritora, que passa horas a fio debruçada em seus livros, com um lápis na mão e um caderno sobre a mesa
Seus poemas não são de todo ruins.
A maioria fala de amores impossíveis e desencontros.
Não pode ser considerada feia.
Tem os olhos e cabelos castanhos, e a pele clara.
Seus olhos, vez ou outra, encontram-se com os dele, e assim ficam alguns instantes
Até que ela pega novamente a caneta e se põe a escrever
Observa em volta e não pára um só instante suas mãos
Quando ela chega, todos os olhares voltam-se para ela
E quando ela se senta, na mais escondida mesa, parece que todos resolvem por lá passar.
Mas ela não se incomoda: continua a escrever...
Nada e nem ninguém consegue parar sua caneta
Mas, só ele é capaz de fazê-la largar a caneta e sorrir quando seus olhos se encontram
O seu nome? Ninguém sabe! Nem sua história, nem nada...
Sabe-se apenas que, todos os dias, no mesmo horário, ela senta-se na mesma mesa, com o mesmo caderno e a mesma caneta, e todos os dias eles se olham...